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Santarem

A cidade de Santarém situa-se na margem direita do Tejo,  aproximadamente a 80 km da foz do rio. A Alcáçova é um amplo planalto implantado no maciço calcário estremenho, sobranceiro ao rio Tejo, escarpado nas vertentes sul, este e oeste.
A Alcáçova de Santarém pertence à Freguesia de Marvila, Concelho e Distrito de Santarém. Longitude: W 8º 40'30'' ; Latitude:  N 39º 14'10''. Carta militar 1/25000 (1979) folhas 352 e 353.
É hoje inquestionável que a Scallabis dos textos clássicos (Plínio, Ptolomeu, Itinerário de Antonino) corresponde à actual cidade de Santarém, localizada na margem direita do antigo estuário do rio Tejo, a escassos 80 Km. da sua foz. Ao contrário de Olisipo, Scallabis foi ignorada por Estrabão na sua Geografia. O sítio foi mencionado por Plínio (IV, 117) , que o apresenta como uma das cinco colónias da Província da Lusitânia, autor que também informa que Scallabis era designada por Praesidium Iulium (Scallabis quae Praesidium Iulium vocatur) e que era sede de um dos três Conventus Juridici: o Scalabitanum (Universa provincia dividitur in conventus tres, Emeritense, Pacense, Scallabitanum ...). Ptolemeu (II, 5,6) refere o sítio como Scallabis Colonia, o que parece indicar que a designação de Praesidium foi rapidamente abandonadaA sua situação era, em termos estratégicos e de acessibilidade, francamente favorável.

Santarém localiza-se entre o Oceano e o rio, na extremidade Norte do extenso mar que o antigo estuário constituía, e no início do curso do fluvial propriamente dito. Era pois um porto marítimo com acesso directo ao interior, posição privilegiada a vários níveis.
O Planalto da Alcáçova ocupa uma posição estratégica fundamental, que possibilita controlar o rio em excelente posição defensiva, já que domina visualmente amplas zonas do seu vale.
O sítio arqueológico implanta-se num alto planalto sobranceiro ao rio, sendo muito abruptas as encostas este, sul, sudeste e noroeste, sendo mais suave a nordeste.
Possui uma cota máxima de 106 metros acima do nível médio das águas do mar, apresenta grande defensabilidade natural e, como já se disse, um vastíssimo domínio visual. 

Possui actualmente 4.5 ha., sendo possível admitir que, na Antiguidade, a sua extensão fosse maior, podendo ter atingido os 5 ha.. Sabemos que as vertentes do planalto, onde se viria também a implantar a Alcáçova medieval, estão, desde há muito, em acelerado processo de erosão, o que provoca uma enorme instabilidade das encostas e o seu contínuo esboroamento. 
As escavações arqueológicas na Alcáçova de Santarém iniciaram-se em 1979, com a realização de uma pequena sondagem levada a efeito pelos responsáveis de uma Associação local de Defesa do Património. Entre 1983 e 2001, várias campanhas de trabalhos de campo, dirigidos por Ana Margarida Arruda e Catarina Viegas, tiveram lugar sobre o sítio, estando já escavada uma área de cecra de 1.500 m2.

Os resultados obtidos durante os trabalhos de campo permitem afirmar que a Alcáçova de Santarém é um sítio de ampla diacronia, cuja primeira ocupação pode datar-se do século VIII a.C.. Esta última deve relacionar-se com a presença fenícia no Estuário do Tejo. O sítio foi ocupado, sem interrupções, até à actualidade, sendo muito importantes os testemunhos da sua ocupação durante o período romano e islâmico.
Como em quase todos os sítios onde se verifica uma ocupação prolongada e contínua, a deposição dos sedimentos foi muitas vezes alterada por movimentações de terras ocorridas em momento posterior. Em Santarém, tal situação foi particularmente grave durante a  Idade Média quando a construção de silos subterrâneos afectaram gravemente os testemunhos arqueológicos anteriores. É também uma realidade que obras mais recentes, nomeadamente a instalação nos anos 50 da rede de esgotos no Jardim das Portas do Sol, tiveram os mesmos efeitos destrutivos. A ocupação romana de Scallabis acabaria por interferir também, por vezes drasticamente, nos níveis de ocupação imediatamente anteriores. A Alcáçova de Santarém pode pois, com propriedade, considerar-se um verdadeiro palimpsesto, com um apagar e imprimir contínuo e ininterrupto de dados ao longo da sua história. Esta situação não impediu, porém, que certas áreas, de maiores ou menores dimensões, conforme os casos, tivessem sido poupadas, permitindo recuperar materiais arqueológicos da Idade do Ferro nos seus contextos primários de ocupação, o que aconteceu com menos frequência no caso da ocupação romana republicana e raramente ao nível da época romana imperial.

Os níveis da Idade do Ferro foram datados pelo radio carbono, tendo-se obtido a seguinte sequência:
FASE I (Níveis profundos) ICEN 532:             2640+50 BP - 898-765 cal. a.C.
FASE I (Níveis profundos) BETA 131488:      2650+70 BP - 920-770 cal. a.C.
FASE II (Níveis médios)     ICEN 525:             2470+70 BP - 799-396 cal. a.C.
FASE III (Níveis superiores) BETA 131487:      2200+60 BP - 396-60 cal. a.C.

Os resultados obtidos durante os trabalhos de campo permitem afirmar que a Alcáçova de Santarém é um sítio de ampla diacronia, cuja primeira ocupação pode datar-se do século VIII a.C.. Esta última deve relacionar-se com a presença fenícia no Estuário do Tejo. O sítio foi ocupado, sem interrupções, até à actualidade, sendo muito importantes os testemunhos da sua ocupação durante o período romano e islâmico.

São escassas as construções da Idade do Ferro que sobreviveram às ocupações romana, islâmica, moderna e contemporânea. As estruturas limitam-se a alguns troços de muros, por vezes associados a pavimentos, o que não permite averiguar qual foi o traçado urbanístico durante o primeiro milénio a.C. e de que forma se organizavam os espaços domésticos.
Houve no entanto oportunidade de verificar que as estruturas habitacionais possuíam plantas rectilíneas, rectangulares ou quadrangulares, e que os seus muros foram construídos com um alicerce de pedra, sobre o qual se erguiam tijolos de adobe, dos quais foram encontrados muitos testemunhos.
As paredes que definiam os compartimentos possuíam larguras que variavam entre os 40 e os 55 cm, não havendo qualquer dado que possibilite calcular a sua altura. Os embasamentos pétreos dos muros identificados estavam construídos com pedras de médias dimensões ligadas por argila.
Associados a estas paredes, que por vezes formavam ângulos rectos, foram quase sempre encontrados pavimentos de argila compactada ou de calcário moído. A propósito de estes pavimentos, deve dizer-se que os de argila foram encontrados tanto nos inícios como nos momentos finais da Idade do Ferro, e que os de calcário moído surgem sempre associados aos níveis médios.

Estruturas do sector 2

Os materiais arqueológicos da Idade do Ferro recolhidos em Santarém são quase exclusivamente cerâmicos. De facto, não foi possível recuperar quaisquer artefactos metálicos, de osso ou de pedra, tendo-se apenas registado a presença de objectos de pasta vítrea, concretamente de adorno.
As cerâmicas manuais são muito abundantes nas fases inferiores, diminuindo a sua percentagem frente às a torno, ao longo do tempo. As primeiras são cepilladas ou brunidas e/ou polidas apresentando formas ainda típicas do Bronze Final.
A cerâmica a torno engloba as típicas categorias dos sítios orinetalizantes peninsulares, concretamente: cerâmica «gris», cerâmica de engobe vermelho, (pratos de bordo largo, taças e outras formas); cerâmica pintada em bandas (pithoi, urnas cruz del Negro, e outros), ânforas (R1, B/C e D de Pellicer) e cerâmica de pastas alaranjadas e cozeduras oxidantes.

Estudos carpológicos já realizados permitiram verificar que o trigo nu (triticum compactum) e a cevada vestida (hordeum vulgarae) foram cultivados ao longo de toda a diacronia sidérica, sendo importante referir que o primeiro dos cereais domina de forma clara, apresentando sempre valores superiores a 85%.
Em meados da década de 80 do século XX, uma sondagem, para análises polínicas, realizada no Paul dos Patudos, em Alpiarça, no baixo vale do Tejo, próximo de Santarém, veio proporcionar a recolha de dados que importa aqui retomar. Os pólens e as datações de rádio carbono para a sequência estratigráfica evidenciam que, a partir de 5.000 B.P., a paisagem natural sofre alterações significativas, tendo-se passado de um floresta aberta, para uma paisagem de tipo estepe. Os elementos florestais descem de valor, aumentando consideravelmente o NAP, o que significa que as áreas não arborizadas são já muito extensas. Esta situação vai-se acentuando de forma clara até 2590 B.P., época em que os valores do pinheiro e do carvalho são já reduzidos.
Muito interessante é verificar que em 2590 B.P., justamente quando o NAP apresenta áreas consideráveis, os pólens de vinha são, pela primeira vez, muito altos (33%). Apesar de as análises efectuadas não terem sido conclusivas a esse respeito, e de ter ficado claro que a vinha selvagem existia na região desde pelo menos 4580 BP, admite-se que, na primeira metade do I milénio a.C., os numerosos pólens identificados podem já corresponder a vitis cultivada, e não selvagem (vitis sylvestris), tendo acentuado a sua elevada presença.
As mesmas análises polínicas permitiram ainda verificar que é também nesta época que se registam os primeiros pólens de Olea.
A análise da fauna evidenciou a presença de galinha nos níveis da I Idade do Ferro, sendo ainda importante referir que a actividade cinegética contribuiu decisivamente para a dieta alimentar, como pode verificar-se pelas quantidades significativas de restos de cervus elaphus recolhidas. A capra/ovis é também, o bos, mas também o sus são outros contribuintes importantes como fontes de proteinas animais.